A mentalidade anticapitalista​

O capitalismo é o sistema mais difamado da história humana. Desde a primeira revolução industrial na Inglaterra, a substituição dos métodos de produção feudais pelos do capitalismo o consolidaram como um sistema de produção em massa e para as massas. Ao mesmo tempo que fez aumentar em números a população mundial, também multiplicou o padrão de vida médio em uma proporção nunca antes vista. Por que, então, diante dos fatos, é tão comum encontrar críticos fervorosos que dedicam tanto tempo a atacar o capitalismo? Por qual motivo é tão popular, entre os mais diversos estratos sociais, essa “Mentalidade Anticapitalista”? Esse é o objeto de estudo do, também muito difamado, economista austríaco Ludwig Von Mises no seu livro de mesmo nome, publicado em 1956 (entender o contexto histórico é importante para a melhor compreensão do livro).                  

Para começar, é preciso entender as características do capitalismo e o porquê dele ser o sistema mais bem sucedido da história. Na sociedade de status, ou seja, na organização social do Ancien Régime, não existia nenhum tipo de mobilidade social. O rei, a nobreza e o clero justificavam sua existência por uma suposta superioridade moral metafísica. O rei era rei porque essa era a vontade de Deus e as massas pobres, os escravos, os servos, os camponeses feudais se contentavam em suas posições, afinal, o Estado absolutista iria garantir que a plebe nunca tivesse a chance de ascender socialmente. Na sociedade de status, a riqueza da aristocracia não deriva da sua competência necessariamente, mas sim da sua oportuna aliança com o último conquistador a usurpar o trono do antigo rei. Na sociedade de mercado, a riqueza da burguesia é definida pela sua capacidade de atender ao público. Ao comprar ou deixar de comprar um produto, optando pela concorrência, o consumidor soberano determina, em última instância, o que, quanto e com qual qualidade os bens de consumo e os serviços serão produzidos.

Por exemplo, caso um capitalista conquiste o mercado com um serviço de qualidade e, uma vez derrotada a concorrência, diminua a qualidade com objetivo de maximizar os lucros, não vai demorar para que, em um sistema em que o indivíduo não tem sua liberdade de iniciativa cerceada pelo Estado, novos fornecedores apareçam oferecendo um serviço melhor e, eventualmente, ou o capitalista ganancioso vai à falência, ou é forçado a melhorar a qualidade do serviço caso queria se manter no mercado.

Segundo Mises, o sistema descrito acima, a chamada “democracia de mercado” é o motivo principal pelo qual o capitalismo tem tantos críticos. Embora pareça indiscutivelmente bom à primeira vista, os opositores do sistema enxergam nisso uma enorme injustiça. Se a riqueza dos capitalistas vem da sua capacidade de satisfazer o público, o único culpado pelo sucesso ou o fracasso de um indivíduo em se tornar um astro de cinema ou um magnata dos negócios – em uma sociedade com igualdade de oportunidades – é do próprio indivíduo.

Pode parecer cruel, e é por isso que, durante a história, esse sistema acumulou tantas críticas e criou tanta oposição. No geral, existem dois tipos de anticapitalistas. Primeiro, os ressentidos, que, diante dessa suposta injustiça que é a democracia de mercado, buscam se consolar com promessas de uma sociedade igualitária, livre do capitalismo, livre do Estado, livre das classes e, portanto, livre da exploração, justificando seu relativo fracasso com uma suposta estrutura de exploração do valor dos trabalhadores pelos patrões. São esses os socialistas, os comunistas e os anarquistas. O segundo tipo são os ingênuos. Esses, quando olham para o mundo ao redor e se deparam com indiscutíveis desgraças da humanidade, não sabem exatamente o que ou quem culpar, e acabam caindo no discurso dos ressentidos.

Na prática, as consequências da rejeição ao capitalismo são, por um lado, as ditaduras socialistas totalitárias e sanguinárias que historicamente mataram milhões de fome, propositalmente ou não. Por outro lado, alguns dos críticos do capitalismo reconhecem que o socialismo não é uma opção viável e optam pelo intervencionismo, a social-democracia. Ora por ingenuidade ora por fins eleitorais, são promulgadas leis que limitam as liberdades econômicas e dificultam a iniciativa em nome da justiça social. Enquanto países que adotam o sistema do capitalismo laissez-faire (sistema em que o Estado tem pouca intervenção na economia e nas liberdades de mercado) são conhecidos como terra das oportunidades, os que tentam emular isso através de políticas intervencionistas acabam, invariavelmente, criando desemprego, fome, miséria e estagnação. Faço das palavras de Mises as minhas quando digo que “A única coisa que pode evitar que as nações da Europa Ocidental, América e Austrália sejam escravizadas pelo barbarismo de Moscou é um apoio aberto e irrestrito ao capitalismo laissez-faire”.

Lucas Ferraz

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