Foi de repente, um susto. Ela estava em pé quando tudo aconteceu. O estranhamento de uma mãe atônita logo ganhou forma em sua face interrogativa: era ele a rebentar naquela manhã azul julina um pouco antes do tempo?
Corre-corre. No carro, Chico a nos dizer: “Quando, seu moço, nasceu meu rebento. Não era o momento dele rebentar. Olha aí, ai o meu guri, olha aí. Olha aí, é o meu guri”. Era a canção escolhida aleatoriamente para aquele dia.
De repente, uma esperança “pousou na nossa sorte”. Agarrada aos limpadores do para-brisa, assentou-se e, indiferente às lufadas de vento, seguiu compenetrada até o destino final: a maternidade.
Apostávamos que, durante o caminho, ela, Esperança, se cansaria e seu corpo esquálido não aguentaria o repuxe dos catabis provocados pelas ruas intrépidas de Teresina.
Bateria asas e partiria pela imensidão amarelada pelos raios de um sol a pino daquela manhã especial. Estaríamos satisfeitos mesmo que o tempo em sua companhia fosse breve como é sua breve vida- ironia das ironias: a Esperança vive em média nove meses. Simbolicamente, talvez ela estivesse a se despedir para abrir espaço para ele, Davi, dar alguma esperança a esse mundo desesperançado.
Fiel aos seus desígnios, o ser esverdeado deixou entrever que aquele dia 21 de julho de 2015 estava coalhado de bons augúrios, por isso não arredou o pé e, silenciosamente, não se fez de rogada: resistiu impoluta até o destino final em posição imperial sobre as hastes imóveis que repousavam no vidro do carro.
Em poucos minutos ele daria o seu ar da graça. Davi veio, então, lambuzado de fluidos escorregadios e, vertendo um “chorinho-sirene”, anunciou a chegada. Pequenino. Magrinho. E saudável. Davi nascia para ganhar o mundo que o esperava. Aquele mundo que o influenciaria seria influenciado por ele por meio de sua capacidade infinita de criar.