Dom Casmurro: um romance pra ler e reler

E bem, qualquer que seja a solução, uma coisa fica, e é a suma das sumas, ou o resto dos restos, a saber, que a minha primeira amiga e o meu maior amigo, tão extremosos ambos e tão queridos também, quis o destino que acabassem juntando-se e enganando-me… A terra lhes seja leve! Vamos à História dos Subúrbios.”

Encerra-se assim o romance Dom Casmurro, de Machado de Assis.

A história de Bentinho, que é o narrador malicioso do livro, é contada por ele, envolvendo o leitor numa dúvida crudelíssima: Capitu, a esposa de Bentinho, o traiu com seu melhor amigo, Escobar?

Eis a dúvida mais famosa da literatura brasileira.

Mas antes: por que o livro se chama Dom Casmurro Bentinho conta como surgiu o nome pomposo que intitulou o livro.

O apelido surgiu quando Bento Santiago viajava num trem e um interlocutor o abordou a fim de mostrar umas poesias que ele, o interlocutor, havia escrito.

Sem dar muita trela, Bentinho, meio que ignorou a investida. E então o aspirante a poeta, chateado, nominou-o de “Dom Casmurro”, porque remetia o termo Casmurro à ideia de alguém ensimesmado, voltado para si, fechado.  O “ Dom” é só uma ironia a mais nessa história pitoresca.

Bentinho, no alto dos seus 50 anos, narra a história dele e de Capitu, sua primeira namorada. Depois de enfrentar obstáculos – a mãe de Bentinho o pôs num seminário, a fim de pagar uma promessa -, Bentinho consegue sair antes de se tornar padre.  Estudar Direito, formando-se e exercendo a profissão de advogado.

Casa-se com Capitu. E vivem felizes até que Bentinho, obsessivamente, entra numa espiral de ciúmes a ponto de ver no filho Ezequiel os traços do amigo Escobar, que havia morrido afogado. Foi a partir do velório que Bentinho começa a desconfiar, uma vez que, para ele, a reação emotiva de Capitu exorbitou de uma relação de simples amizade.

Obsessivo, Bentinho arrasta o leitor para o seu aparente delírio. E o fim trágico – Capitu praticamente exilada na Europa com o filho, acaba falecendo – marca a história aparentemente simples de um romance ingênuo, de poucos personagens, que descambou para a melancolia de um homem atormentado pela dúvida e obsessão.

Um romance para ler mais de uma vez, de tempos em tempos. A releitura é fundamental e apaixonante.

Zeferino Júnior

Zeferino Júnior

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